Relacionamento Tríptico | Triptych Relationship
2002
installation: 3 backlight boxes (duratrans print, wood, paint and cables)
100x66x10cm each box
O olhar como experiência compartilhada (critical text - sorry, portuguese only...)
Nos dois anos de convivência, como professoras de Ynaiê, pudemos acompanhar o processo de maturação do seu trabalho. Das sequências de fotos, ancoradas no fotógrafo americano Duane Michals, onde redefine a realidade como uma experiência sensorial e mística, às imagens performáticas de seu próprio corpo, inspiradas formalmente na obra do artista brasileiro Miguel Rio Branco, Ynaiê, sem medo de errar, se lança com coragem nos riscos dos caminhos da invenção. Assim, na vertigem das ambiguidades das formas, reconfigura o figurativo na iminência de um estado de dissolução, indo em direção ao simbólico.
Convém lembrar que os jovens artistas da geração de Ynaiê, diferentemente dos da geração anterior, desde o início, puderam contar com referências mais sólidas na elaboração de suas obras. Diversas exposições e uma vasta bibliografia, embasadas por textos críticos, reiteram muitos dos aspectos mais ricos da arte contemporânea: suas articulações espaciais, suas interações multimídias, seu viés híbrido, seu caráter performático, seus impulsos investigativos problematizados em torno de um tema. Muitos como Rosângela Rennó responderam a isso trabalhando com os excessos de informação e a consequente perda da significação das imagens. Outros como Arthur Omar antropofagizam a face gloriosa do carnaval com close-ups radicais, monumentalizados. Já Ynaiê, em sua instalação, denominada “relacionamento tríptico”, explora um plano visual e metafórico, que tanto se conecta com uma expressiva cromaticidade quanto permite o acesso em direção a uma experiência sensorial. O tema retratado - “o beijo”- é apresentado através de uma sequência de três fotos. Resolvê-lo sem cair nas soluções banais é um dos trunfos maiores deste trabalho.
A forma encontrada pela artista para equacionar a montagem das fotos foi a de criar uma estrutura triangular, suspensa no espaço da galeria, como estratégia para atrair o espectador para penetrar no objeto. Mas ao mesmo tempo que ele entra e desfruta individualmente da experiência sensorial, se depara com a dificuldade de perceber tais imagens que, montadas em caixas de luz, se encontram bastante ampliadas. Em virtude da pouca distância que tem para olhá-las, o sentido da representação - a cena amorosa - é somente visualizado após algum tempo de contemplação. Como a granulação é intensa, as imagens se tornam ambíguas, transformadas em grandes abstrações. Imprevisíveis, fugidias, incorpóreas, como sugere em outro contexto Guilio Carlo Argan. Isso só contribui para ratificar que a experiência sensorial começa onde acaba o tema e recomeça quando o espectador consegue entrever através dos quadros de referência visual alguns vestígios da representação. Nesse despertar dos sentidos, em algum momento, nos é restituída a dimensão afetiva que tudo abrange. Do lugar da sexualidade, da diferença entre os sexos, do entrelaçamento dos corpos se recompõe o mito de origem do homem.
Angela Magalhães/Nadja Fonsêca Peregrino
Curadoras e pesquisadoras associadas