Eros x Thanatos
Galeria Jorge Shirley, Lisbon, January, 2009



Eros x Thanatos
Galeria Jorge Shirley, Lisbon, January 2009
group show 'Afrontamentos 4'


Eros x Thanatos
2008-2009
installation (wood, apples, gold colorant, fish hook, nylon string)
variable sizes

A instalação consiste em uma maçã, feita em madeira maciça, ligeiramente agigantada, com as letras a, m, o, r, t, e, inscritas em seu redor, podendo-se ler ‘amor’ e ‘morte’. Ela encontra-se suspensa em meio a uma série de maçãs verdadeiras, douradas (com corante comestível), também elas suspensas no espaço, gravitando à espera de serem colhidas e degustadas pelo público.
A eterna relação dialéctica entre amor e morte é explorada nessa peça a partir da simbologia em torno da maçã: uma primeira referência diz respeito à maçã da discórdia, que dá origem ao início da guerra de Tróia. Quando Paris, príncipe desta cidade, é incumbido de oferecer uma maçã de ouro à deusa mais bela entre Afrodite, Hera e Atena, ele acaba por escolher a deusa do amor e, em troca, é-lhe oferecido o amor da mortal mais bela, Helena. Entretanto Helena é casada com Menelau, rei da Grécia e o rapto dela por Paris faz com que Menelau, enfurecido, resolva invadir Tróia para resgatá-la, dando início à guerra entre gregos e troianos. Uma guerra, que por mais razões politicas que estivessem em causa, acaba por ser impulsionada pelo amor...
A proposta de oferecer as maçãs diz respeito já à segunda referência (inevitável), da maçã enquanto símbolo do conhecimento. Tendo em consideração a origem etimológica das palavras ‘saber’ e ‘sabor’ – o vocábulo latim sapere – proponho o compartilhar do saber através do sabor, a partir de uma reflexão entre as associações do amor com a morte e a violência.




Outburst
2008
video, 1'



Anxiety
2008
video, 1'

Estados do Amor | States of Love
Galeria 3+1, Lisbon, September 2008
solo show

Estados do Amor | States of Love
2007-2008
video-installation (cloth, table, chairs, candle, video projector, dvd player)
300x300x250cm


Pensar as relações humanas, como elas se formam e desenvolvem, é o que propus ao convidar pessoas de diversas áreas para discutir o amor em jantares que aconteceram entre quatro paredes de tecido semi-transparente. O limite entre as esferas pública e privada é a problemática subjacente à discussão proposta, que busca entender o amor à luz das quatro palavras do grego clássico: storge é o amor das afinidades, familia; philia das amizades; eros do erotimo e ágape da espiritualidade. O resultado dos jantares é apresentado em um vídeo no qual construo o meu próprio discurso sobre o amor a partir das conversas entre os participantes.

How human relationships are formed and develop? That is what I tried to answer in a series of dinners to which people from different areas were invited and that took place inside four semi-transparent walls (made out of cloth). The limit between the public and the private spheres and what we understand by ‘love’, based in the four different ancient Greek words: storge – affinities/familial love; philia – friendship love; eros – sexual/erotic love and agape – sritual love, were the departing point. The result is a video in which I construed my own speech on the subject love based in the participant's conversations.



Infinitos
solo show
Galeria Maria Martins, Rio de Janeiro
February/March 2006


Dupla percepção - paisagem exterior e paisagem interior
(critical text - sorry, portuguese only...)

Os três trabalhos apresentados por Ynaiê Dawson em sua primeira mostra individual possuem elos entre si, ou seja, não se trata de uma reunião arbitrária de obras dispersas, mas de uma busca por alinhavar um fio que unifique manifestações distintas. Os pontos de interseção destes caminhos podem ser detectados através de um olhar atento para cada uma das obras presentes no espaço da galeria.

Na série de fotos “Sem título”, vemos diversos registros de nuvens no céu. Nunca a mesma imagem é repetida. Trata-se de um work in progress ao qual a artista vem se dedicando desde 2003. Essa obra foi inicialmente inspirada em um trabalho do fotógrafo americano Alfred Stieglitz, que consistia em uma série de pequenas fotografias de nuvens que o artista intitulou de “Equivalents”, por considerar que aquelas imagens equivaleriam a sentimentos e emoções, cada qual específico, singular. Tendo como ponto de partida essa relação de identificação entre sentimentos humanos e natureza, Ynaiê Dawson começou a produzir imagens do céu nas mais variadas situações de tempo, lugar e horário. Temos desde céus de um azul límpido, aos mais carregados; dos mais solares, aos que surgem como um presságio de tempestade. As imagens finais, cortadas em círculos e agrupadas em série, acabam por apresentar, cada uma, um pequeno mundo, único, ao mesmo tempo tão igual e tão diferente de todos os outros. O que aparentemente surge como o sempre igual, o céu de cada dia, caso olhemos atentamente traz guardado um repertório de singularidades.


A representação da natureza pela arte esteve muitas vezes associada ao sublime, ao belo, aqui a artista busca fazer com que estas imagens de paisagens encontrem ecos também no mundo de agora, no que ele se apresenta como lugar de transformações velozes, ansiedade, nomadismo e perda de identidade. Daí a repetição serial destas imagens em grande quantidade, num movimento contrário a vontade de singularizar as mesmas. O que poderia derivar em pura contemplação, nos fazendo escapar do entorno, acaba por trazer uma carga de aceleração e excesso que inverte o senso comum ligado a essa espécie de representação.


No que toca a relação entre sentimentos e natureza que motivou Stieglitz, e repercute na jovem artista, podemos lembrar das palavras de Fernando Pessoa: “Em todo o momento de atividade mental acontece em nós um duplo fenômeno de percepção: ao mesmo tempo que temos consciência dum estado de alma, temos diante de nós, impressionando-nos os sentidos que estão virados para o exterior, uma paisagem qualquer, entendendo por paisagem (...) tudo o que forma o mundo exterior num determinado momento da nossa percepção. Todo o estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo o estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. Há em nós um espaço interior onde a matéria da nossa vida física se agita. E – mesmo que não se queira admitir que todo o estado de alma é uma paisagem – pode ao menos admitir-se que todo o estado de alma se pode representar por uma paisagem. (...).”


Essa relação dialética entre exterior e interior é um dos movimentos postos em obra por Ynaiê Dawson. A insistência pela representação do céu revela um olhar voltado para fora, para o horizonte, aquele ponto ao qual nunca chegamos, mas que nos serve de guia e representa um infinito de possibilidades, a outra série de fotos presente na exposição traz à luz um olhar voltado para dentro, para o que há de mais íntimo, o próprio corpo. Quando ainda distantes essas fotografias surgem para os nossos olhos como desenhos, e sim, são quase desenhos. Ynaiê escolhe somente linhas do corpo para apresentá-lo, e através de um jogo de exposição de luz dá a ver um branco luminoso, que toma conta de quase a totalidade da cena.


As linhas do corpo surgem, ao mesmo tempo, como limites e como ponto de contato com o mundo exterior. Aquela camada de pele mais tênue que nos separa do exterior e estabelece um corte, uma descontinuidade; mas que também gera a possibilidade do toque, da troca. O sutil erotismo destas imagens faz lembrar que na fusão com o outro o contínuo torna-se possível, nas palavras de Bataille é no erotismo, no encontro de dois corpos, que esta quebra da descontinuidade a que somos fadados do nascimento a morte é possível, acontece.


No vídeo, em loop, “Fio condutor”, que completa a mostra, vemos o passar incessante de um fio - que com a velocidade tornam-se fios - pela janela de um trem em movimento, com um céu nublado ao fundo. A trilha sonora do vídeo contribui para doar uma atmosfera de repetição, continuidade, espécie de mantra onde natureza e homem novamente se misturam, sem um desfecho estabelecido. A paisagem parece sempre igual, mas é sempre outra, o olhar está em permanente movimento. Essa atenção para as singularidades em meio ao que surge como o mesmo está presente em toda a mostra. Fio condutor que alinhava, por fim, a primeira individual da artista, colocando o público frente a uma investigação que busca pensar as possibilidades do infinito, o contínuo, a dialética entre exterior e interior. Todas essas procuras, perguntas, que marcam o início da construção de um vocabulário próprio de Ynaiê Dawson.


Luisa Duarte, Rio de Janeiro, Fevereiro de 2006


Linhas | Lines
2006
photography
50x50cm each image



O Silêncio | The Silence
2005

photography

30x40cm each image







Imensidão Íntima | Intimate Immensity
2004

Installation (wood, mirrors, projection screen, video projector, dvd player)
220x120x280cm

Uma caixa cujo interior tem as paredes laterais, de cima e de baixo forradas por espelhos e na superfície do fundo uma tela na qual é projetada por trás uma imagem de nuvens que se movimentam a uma velocidade quase imperceptível. A imagem que o espectador tem ao colocar sua cabeça dentro da caixa, é de um espaço infinito, um abismo em todas as direções, provocado pelo reflexo dos espelhos. A sensação de vertigem é intensificada pelo lento movimento de zoom-in nas nuvens. Trata-se de uma investigação poética acerca da relação entre o vasto espaço do mundo e a profundidade do espaço interior de cada ser humano, da relação do homem com o universo que o cerca, sobre o espaço que cada um ocupa e como ele se expande.


An open box in which the two sides, top and bottom inner surfaces are mirrored. At the back surface there is a projection screen where a moving image of clouds is back-projected. The mirrors reflect the projection, creating the effect of an infinite space. When one looks inside the box, one faces a void, infinite space, and feels surrounded by the clouds. Gradually it is possible to perceive the very subtle movement of the clouds, zooming-in, enhancing a dizzy sensation. It is a poetic investigation on the relationship between the world’s immensity and the deep, inner space of every man. It is about how men relate to the reality surrounding him, the space that each one of us occupies and how it can be expanded.




fio condutor
2004
video, infinite loop
variable sizes


Série Infinita | Infinite Series
work in progress since 2003
photography
25x25cm each image


Todo estado de alma é uma paisagem. | Every state of the soul is a landscape
Fernando Pessoa

Tendo como ponto de partida a relação de identificação que todos nós buscamos na natureza e inspirada pela série Equivalents, do fotógrafo americano Alfred Stieglitz (pequenas fotografias a preto e branco de nuvens e que ele considerava serem equivalentes de seus próprios sentimentos e emoções mais sinceras), comecei a produzir imagens do céu nas mais variadas situações de tempo, lugar e horário. Cada imagem é única, ou seja, nunca nunca será repetida, embora sejam sempre apresentadas em grandes quantidades. A serialização ad infinitum busca refletir não somente a constante transformação a que estamos submetidos, mas também, através do acúmulo, a banalização do significado que a representação das nuvens tem na história da arte, ou seja, deixam de se associar ao sublime, passando a representar o excesso e a diversidade.

Considering our constant search for identification with nature and inspired by Alfred Stieglitz’s series Equivalents (beautiful, tiny black and white prints of clouds that he considered to be equivalents of his most sincere feelings and emotions) I begun to photograph the sky in various situations of time and place. Every final print is a unique edition, so that images are never repeated, although they are always displayed in great quantities. The serialization ad infinium reflects on the constant changes we are all subject to as well as chalenges the common association of clouds motifs with the idea of the sublime representing instead the excessiveness and diversity.



Relacionamento Tríptico | Triptych Relationship
2002
installation: 3 backlight boxes (
duratrans print, wood, paint and cables)
100x66x10cm each
box


O olhar como experiência compartilhada
(critical text - sorry, portuguese only...)

Nos dois anos de convivência, como professoras de Ynaiê, pudemos acompanhar o processo de maturação do seu trabalho. Das sequências de fotos, ancoradas no fotógrafo americano Duane Michals, onde redefine a realidade como uma experiência sensorial e mística, às imagens performáticas de seu próprio corpo, inspiradas formalmente na obra do artista brasileiro Miguel Rio Branco, Ynaiê, sem medo de errar, se lança com coragem nos riscos dos caminhos da invenção. Assim, na vertigem das ambiguidades das formas, reconfigura o figurativo na iminência de um estado de dissolução, indo em direção ao simbólico.

Convém lembrar que os jovens artistas da geração de Ynaiê, diferentemente dos da geração anterior, desde o início, puderam contar com referências mais sólidas na elaboração de suas obras. Diversas exposições e uma vasta bibliografia, embasadas por textos críticos, reiteram muitos dos aspectos mais ricos da arte contemporânea: suas articulações espaciais, suas interações multimídias, seu viés híbrido, seu caráter performático, seus impulsos investigativos problematizados em torno de um tema. Muitos como Rosângela Rennó responderam a isso trabalhando com os excessos de informação e a consequente perda da significação das imagens. Outros como Arthur Omar antropofagizam a face gloriosa do carnaval com close-ups radicais, monumentalizados. Já Ynaiê, em sua instalação, denominada “relacionamento tríptico”, explora um plano visual e metafórico, que tanto se conecta com uma expressiva cromaticidade quanto permite o acesso em direção a uma experiência sensorial. O tema retratado - “o beijo”- é apresentado através de uma sequência de três fotos. Resolvê-lo sem cair nas soluções banais é um dos trunfos maiores deste trabalho.

A forma encontrada pela artista para equacionar a montagem das fotos foi a de criar uma estrutura triangular, suspensa no espaço da galeria, como estratégia para atrair o espectador para penetrar no objeto. Mas ao mesmo tempo que ele entra e desfruta individualmente da experiência sensorial, se depara com a dificuldade de perceber tais imagens que, montadas em caixas de luz, se encontram bastante ampliadas. Em virtude da pouca distância que tem para olhá-las, o sentido da representação - a cena amorosa - é somente visualizado após algum tempo de contemplação. Como a granulação é intensa, as imagens se tornam ambíguas, transformadas em grandes abstrações. Imprevisíveis, fugidias, incorpóreas, como sugere em outro contexto Guilio Carlo Argan. Isso só contribui para ratificar que a experiência sensorial começa onde acaba o tema e recomeça quando o espectador consegue entrever através dos quadros de referência visual alguns vestígios da representação. Nesse despertar dos sentidos, em algum momento, nos é restituída a dimensão afetiva que tudo abrange. Do lugar da sexualidade, da diferença entre os sexos, do entrelaçamento dos corpos se recompõe o mito de origem do homem.

Angela Magalhães/Nadja Fonsêca Peregrino
Curadoras e pesquisadoras associadas


Afixia | Asphyxia
2001
photography
20x30cm each image